sábado, 16 de junho de 2007

Este é um texto prático

Catálogo de Erros
Andei pensando muito sobre o que escrever nesse exato momento, quando estivesse deixando Goiânia. Queria algo entre sentimental e metafórico, como crônicas antigas que gostava de escrever e que muitas vezes nem eu mesmo entendia. Mas este é um texto prático. Quero dizer apenas que segunda-feira amanheço em Curitiba.

Queria fazer uma relação bonita entre as imagens que vejo diariamente em Goiânia, fotografias velhas do Paraná, cenas de filme e fatos marcantes. Mas o que tenho a dizer no momento é que, depois de dez anos, três meses e alguns dias, junto novamente tudo que tenho em pequenas malas e sacolas, rumo a outro destino. E o dinheiro da gasolina só dá pra ida.

Eu queria lembrar de fatos inesquecíveis (seria possível esquecê-los?), falar de pessoas impagáveis, de amizades eternas, daquela mesa de bar que eu julgo ser minha porque eu sempre estive lá. Mas este é um texto prático e basta eu dizer que, por falta de perspectivas profissionais decentes, Goiânia, uma bela cidade, de gente legal, apesar do sertanejo, ficou pequena demais.

Assim que soube que iria pra Curitiba, há cerca de 20 dias, passei a construir frases, conectar idéias, relembrar situações. Tudo pra retratar esses dez anos de Goiânia, afinal, foi aqui que eu "virei" jornalista, como disse um amigo meu. Mas hoje, o que me vem à cabeça é um relatório: em dez anos trabalhei em três emissoras de tevê, três rádios, três revistas, Câmara Municipal, prefeitura, programas independentes, produtoras de vídeo, empresa de clipping. Na maioria gostei de trabalhar. No dia em que não gostei mais, saí. Ou saíram comigo.
Nesse texto de despedida queria fazer elogios pseudo-literários à cidade, enaltecer amigos, abraçar colegas de trabalho, agradecer fontes e entrevistados. Relembrar as primeiras impressões de Goiânia, ainda misturadas às últimas de Londrina. Queria exprimir todo o sentimento acumulado nesse tempo, dizer como esta cidade e este estado foram meus refúgios. Queria contar quantas das 246 cidades goianas eu visitei – com certeza, mais de 120 -, o que achei de cada uma delas, das festas, risos, alegrias, tristezas. Queria falar do confronto com as durezas da vida, com a dor e o sofrimento de gente querida, que se tornou querida por um dia eu ter estado aqui. Mas este é um texto prático. Portanto, basta dizer que o recém-formado de 23 anos que chegou a Goiânia com uma única e grande mala em 21 de fevereiro de 1997 desembarca em Curitiba em 18 de junho de 2007. E toda sua vida cabe no porta-malas de seu Ford Ka.

6 comentários:

Samantha Abreu disse...

seja bem vindo ao nosso Paraná, meu caro!
aqui, como tú sabes, a vida é uma festa.
Se não é.. a gente faz!
rs
beijos

Anônimo disse...

Adeus, amigo querido, Paulixo que está muito mais pra Pauluxo. Ou melhor, até breve. Arruma logo as coisas por aí, que não tardo em te visitar. Não sou de ter certezas, mas me parece bem certo que dias bem melhores virão pra você aí. :)

Larissa disse...

como é bom mudar!
no momento estou com inveja de você (queria estar de mdança tb), mas feliz por ver que finalmente vc vai fazer algo que há anos vem querendo fazer. não é?
boa sorte no seu querido Paraná :)
e se abrir concurso pra geógrafo lá, me avise!

Diogo Honorato, disse...

Solidarizo-me contigo, Paulo. Sou goiano, mas tive que deixar minha bela Goiânia para estudar aqui no sul, na UFSC. E daqui um ano termino a faculdade sem perspectivas profissionais de voltar para minha terra. abraços e boa sorte com a nova fase da carreira (e precisando de um foca, estamos aí! hehehe)

Jussara Soares disse...

E eu que por muito tempo me referi ao meu amigo de Goiânia, agora vou ter que me referir ao meu amigo de Curitiba. Só muda a cidade, mas o orgulho de longe eu continuo sentido desse cara que leva a vida toda num porta malas de um Ford Ka.
Ah, e não é que talvez nos encontremos antes que você imagina? É pra breve. Logo, logo. Vamos ver.

Anônimo disse...

Nossa cara, adorei esse texto... Posso dizer que quando eu mudei daqui de São Paulo, e fui para uma cidadezinha do interior ("Auriflama", já ouviu falar?), senti algo muito próximo (pra não dizer igual), do que você diz no texto... Eu com certeza não teria exprimido melhor em palavras o que eu senti... Só não foi idêntico à você o que senti, pois quem teve que mudar à trabalho (e levou eu e minha mãe) foi meu pai... Eu ainda não trabalho, mas sei o que é mudar de cidade... Viví em São Paulo durante minha vida toda... De repente minha vida mudou, em cerca de 20 dias.... Meu pai chegou em casa, falando que iríamos mudar... Minha vida despencou... No sabado, estacva em casa.. No domingo, estava em Auriflama... Lá era tudo diferente.. o clima, o povo... Imagina o trauma, para mim, que tinha entre 10 e 11 anos... Também posso dizer... "minha vida estava em um porta-mala, e em um caminhão de mudança..." Hoje estou com 14 anos.. Já estou em São paulo de novo.. Meu pai mudou de emprego... Não tem mais que mudar... parabens cara, pelo texto... se puder, da uma olhada no meu blog.. num sei mecher bem... Obrigado, e parabéns ;)