quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Mortes, tragédia, erros e a mentira da Record

As redes sociais, blogs, sites individuais e todas essas modernidades têm feito bem e mal ao jornalismo. Faz bem porque hoje quase nada mais fica escondido. A ocultação deste ou daquele assunto pelos veículos de comunicação, quando desmascarada, e isso quase sempre acontece, provoca um estrago tão grande na imagem da empresa que se prefere hoje desagradar poderosos em troca da benção dos internautas. O lado ruim disso tudo é que, agora, ninguém quer ser o último a dar a notícia, o que provoca uma série de equívocos e até injustiças.


O acidente do último domingo, que matou três pessoas em Curitiba, é o mais novo exemplo e merece reflexão. As manchetes berraram o dia todo: "Motorista embriagado avança sinal e provoca a morte de três pessoas". Ninguém se preocupou em apurar de verdade. Só bem mais tarde, quando o motorista, que estava, sim, embriagado, já havia sido sumariamente julgado e condenado é que a polícia declarou que quem furou o sinal foi uma das vítimas e o rapaz, talvez a reboque de um litro de uísque ou meia latinha de cerveja, não se sabe ainda, atravessou no sinal verde.

Os jornais impressos tiveram tempo de dar a notícia correta. A internet, por sua agilidade, acabou espalhando a informação, mas as notícias originais, com a condenação de quem não teve culpa, continuam por aí. O mais grave, contudo, foi o comportamento da Record - e falo apenas dela entre as emissoras de TV porque foi a única a que assisti na segunda à noite. A informação local, da RIC, estava correta. Porém, minutos depois, no Jornal da Record, a reportagem foi taxativa: "Em Curitiba, motorista bêbado avança o sinal e provoca a morte de três pessoas". (E é óbvio que eles já sabiam que isso não era verdade)

Não sei se a decisão foi da repórter ou da edição. Quem conhece os labirintos do jornalismo televisivo sabe que, muitas vezes, o caminho adotado para deixar uma reportagem mais chamativa nem sempre é o correto. Isso é muito comum quando as afiliadas querem inserir matérias na rede - e não venham me dizer que não porque já presenciei muita forçadinha no assunto para que ele renda, inclusive e principalmente em afiliadas da Globo. O estranho dessa vez foi a rede ter mentido. É triste, mas que sirva de lição ao menos a quem está chegando agora ao jornalismo, cheio de ideias: não há muita diferença entre um comportamento como este e o daquele deputado que votou a favor mas saiu dizendo ter votado contra a manutenção do mandato do deputado ladrão.

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