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quarta-feira, 15 de junho de 2016

Empoderamento? Quando as mulheres são inimigas das mulheres



Se, em 12 anos de um governo de esquerda, como dizem, reestabeleceu-se a luta de classes no Brasil – a meu ver, nada mais que uma reação das elites à ascensão das classes mais baixas –, o conflito de gêneros, que parecia restrito a décadas passadas, retornou com força. Potencializada pela exponencial exposição permitida pelas redes sociais, a reação feminina a uma sociedade absurdamente machista, porém, parece ter perdido a mão.

Exemplos não faltam. A patética reação ao cartaz de divulgação do novo filme X-Men, por exemplo, que obrigou a Fox a se desculpar com as mulheres (?!) deveria fazer corar a mais radical “feminazi”. Querer atribuir questões de gênero a uma fábula de heróis e vilões, trazer à vida real uma situação fantasiosa que só tem razão de existir nos cinemas ou nos quadrinhos, além de absurdamente ridículo, permite que a “causa” caia em descrédito e seja relegada – nesse caso, com razão – ao folclore nacional.

Mas, retornemos a questões verdadeiramente importantes. O caso do assédio sexual do funkeiro Biel (quem?) contra a jornalista do portal IG provocou uma reação em cadeia masculina e feminina contra o artista. Natural. Mas, de onde vieram as mais radicais defesas do cantor? 

Em matériapublicada no Ego em que Biel diz que foi tudo “brincadeira”, a leitora Fernanda V. escreve: “Gente pelo amor né... imagine ir denunciar de assédio cada bobeira que a gente houve nas ruas, todos os dias pelos homens. Agora com o lance o estupro coletivo, tudo vai ser visto com lentes de aumento. Calma mulherada, vamos exigir nossos direitos de outras formas. Pelo na axila e denuncia de assédio sem contexto não vale!”

NoTwitter, a fã Ka, escreveu, entre outras pérolas: “bando de hipócritas, bando de gente mentirosa tentando tapar o erro deles com o do Gabriel, o erro dele nao diminui o de ninguém”.

Vale ressaltar que os exemplos são alguns entre milhares. Milhares.

Vamos ao caso do estupro coletivo da adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro. Conversa entre três colegas de trabalho – mulheres - de uma pessoa próxima: “Não acho que é verdade. Ela fazia sexo em troca de drogas.” “E estava acostumada a fazer orgias, tem 16 anos e já tem uma filha”. "Ela gostava."

Em uma reportagem de TV sobre o tema publicada no You Tube, a preocupação de dezenas de mulheres é uma só: “me manda o vídeo”, com seus números de celulares publicados abertamente.

Temos mais. Nos dias em que o afastamento temporário de Dilma Roussef estava em discussão na Câmara Federal, uma amiga flagrou a seguinte conversa entre a caixa de supermercado e a cliente: “Será que a Dilma cai?”. “Ah, tem que cair. Aquela não serve nem pra empregada doméstica.”

No perfilde Jair Bolsonaro no Facebook – o mesmo que afirma que o patrão tem direito de pagar salários menores às mulheres porque elas engravidam ou que afirmou a uma deputada que não a estuprava porque ela não merecia - as fãs, como Gildete G., dizem frases como: “ Para resgatar os valores perdidos das famílias brasileira. ..e por Ordem e progresso nesse país ..Nosso futuro presidente! !!!!!!!!!! “. 

Ou Lua F. B.: “O mais legal é que a galera quer fazer campanha sem ganhar nada, porque acredita no Bolsonaro, diferente de outros por aí que precisam trocar votos por benefícios ou dinheiro! É nosso futuro presidente!!!”. 

Ou, ainda, Ângela B.: “Sou sua admiradora querido Bolsonaro, por isso gostaria muito que o senhor falasse mais sobre seus planos futuros se for eleito presidente em relação a educação e saúde! um super abraço.”. E por aí vai.

Por outro lado, o absurdo: homens que se mobilizam verdadeiramente pelo fim da cultura do estupro, contra a submissão feminina pregada por algumas religiões, contra uma sociedade latina verdadeiramente machista e a favor da real igualdade de gêneros são atacados por muitas mulheres - das mais educadas e bem formadas - simplesmente... por serem homens. Os exemplos também estão igualmente aí, às dezenas, centenas.

Não seria a hora de as combativas mulheres olharem mais para o caráter, o engajamento, o companheirismo e a ideologia e menos para o que se tem entre as pernas?