domingo, 7 de julho de 2019

Vaza Jato sabe de qual celular partiram as mensagens que incriminam Moro e procuradores

Já se tornou padrão entre membros da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro desqualificar as gravíssimas denúncias reveladas em suas conversas nada republicanas em grupos do Telegram. Ora alegam não se lembrar - em um estranho surto de amnésia coletiva -, ora dizem que o material foi alterado e ora afirmam não ver nada demais na trama. Mas o fato é que os envolvidos sabem da autenticidade. Mais, sabem de qual dos aparelhos as conversas vazaram.

Quando se visualiza uma conversa no Telegram ou mesmo no Whats App, o nome do interlocutor aparece da forma em que foi gravado na agenda daquele celular específico. E nem todos os procuradores tratam os colegas da mesma forma. Alguns registram apenas o primeiro nome, outros, o nome completo, outros, ainda, o nome e a cidade de atuação etc etc. Portanto, ao confrontar as imagens reveladas pelo Intercept com as que ainda mantêm em seu próprio aparelho, a vítima da invasão  - ou o autor do vazamento - sabe exatamente que as mensagens explícitas de atropelo à lei saíram de seu próprio aparelho.

Independentemente disso, que é um fato secundário, todos os envolvidos sabem exatamente da veracidade das informações reveladas pela série de reportagens do Intercept, Folha e Veja. E, mesmo que neguem publicamente, entre eles, em seu íntimo, convivem diariamente com o constrangimento de suas atitudes - e críticas a colegas - porque sabem o que escreveram e o que leram. Nesse momento, deve haver uma guerrinha entre a turma de Deltan e o político Sergio Moro. Bastante salutar para a democracia, diga-se.

Interpect prova autenticidade das mensagens

Independentemente da reação desesperada dos autores de uma das maiores tramas da história política brasileira - sim, Moro e a Lava Jato agiram politicamente - não há mais dúvidas da autenticidade dos diálogos. Basta ver os jeitos e trejeitos de cada um, a forma de se expressar, as formas de tratamento entre colegas, para ver que só um Nobel em literatura teria tempo e capacidade para criar perfis tão característicos.

Mas, vamos aos fatos. Em news letter publicada no último dia 06, o Intercept revela como faz a checagem dos diálogos. Não é apenas uma análise do que foi dito, mas uma série de outras questões são levantadas, como explica trecho da matéria:  

"Assim, passamos semanas obstinadamente buscando sinais que confirmassem a autenticidade das mensagens. Encontramos, em quantidade mais que suficiente: conversas de nossos repórteres com procuradores; menções a nós em outros diálogos que coincidem com datas em que procuramos a Lava Jato; referências a locais e endereços que conhecemos; discussões prévias sobre eventos a que sabemos que a força-tarefa compareceu; trocas de argumentos sobre processos à época em que eles eram julgados; comentários sobre noticiário do dia. Repórteres parceiros repetiram o procedimento, e o resultado foi o mesmo."

No caso da procuradora Monique Cheker, por exemplo, que disse que "Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados", o site fez uma checagem tripla, cruzando informações sobre a procuradora em outros sites e até em conversas com parentes.

Um exemplo é esta conversa de Monique com Deltan Dallagnol, o subchefe da Lava Jato, subordinado apenas a Sergio Moro:

"Deltan – 00:17:33 – Mo, como faço a citação do artigo? Preciso dos dados da obra em que estará inserido. Vc me passa ou indica nome se estiver já online?

Monique – 01:10:06 – Pela ABNT, faça a citação e coloque a informação “no prelo” após o nome do autor.

01:11:20 – [imagem não encontrada]

01:11:50 – O nome da coletânea será “Desafios contemporâneos do Sistema Acusatório”


Uma simples busca pelo nome do livro na internet nos levou ao site da Amazon:"





A pré-visualização do livro no site da Amazon permite que tenhamos acesso ao índice da publicação. Nele, como vemos abaixo, consta o nome de Cheker (e de nenhuma outra Monique), confirmando o que ela disse a Deltan. Ou, ao contrário do que escreveram os porta-vozes da Lava Jato, Monique é Monique:



Essa é apenas parte do serviço de checagem que envolve jornalistas do Intercept, Folha e Veja. Negar o trabalho sério de profissionais de veículos com matizes tão contrapostas é negar o óbvio. Revela apenas ignorância, má fé ou apreço por contraventores de estimação.

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