terça-feira, 4 de setembro de 2018

Lula livre. E Amoêdo presidente

Amoêdo em campanha: Estado eficiente (F: Facebook)
Votei em Lula em todas as eleições que ele disputou, à exceção de 1989, quando ainda não tinha idade. Sempre acreditei no operário nordestino que, contra todas as expectativas, se transformou no maior líder popular da história brasileira. Já em Dilma, votei apenas no segundo turno, nas duas eleições. Foi mais um voto contra seus adversários, sobre quem pairavam suspeitas antigas de envolvimento com corrupção, escancaradas depois com as denúncias de irregularidades na gestão de obras do metrô e roubo de merenda escolar em São Paulo, obras da Cidade Administrativa em Minas e, especialmente, as gravações de Joesley Batista.

Petista. Ainda assim, esse é o rótulo meio humorístico meio raivoso que ganhei de alguns amigos e colegas de trabalho e profissão. Ficou fácil, para os sem argumentos, utilizar pejorativamente o "adjetivo" para contradizer os "adversários" pela sua absoluta incapacidade de debater. De qualquer forma, não me faz nenhuma diferença a opinião alheia sobre mim. Comento aqui apenas para contextualizar. Beijinho no ombro.

Sim, fui de esquerda - nunca comunista ou socialista, como alguns pensam, nem na universidade, apesar da convivência diária com o PCdoB. Sempre moderado, porém, nunca deixei de compartilhar das melhores ideias que a esquerda tem. Vou resumir tudo, todos os conceitos, posições, políticas em um único aspecto: atenção ao ser humano.

Lula tinha, sim, uma preocupação genuína com os brasileiros desvalidos, quem mais precisa do Estado. Nunca duvidei de sua sinceridade ao proporcionar condições de vida melhores aos pobres e miseráveis, solenemente ignorados por governos anteriores. Foi um excelente presidente. Os números da economia, o reconhecimento internacional, a representatividade que o Brasil tinha no mundo durante seus governos falam por si só. Contra números, fatos, não há argumentos raivosos que possam refutá-los.

Lula e o pequeno Jeferson, em Salvador, durante a campanha eleitoral de 2002 (Foto: Ricardo Stuckert/Campanha)
Eu entendo perfeitamente a decepção sincera de parte dos brasileiros, especialmente os de centro-esquerda, com a submissão de Lula ao modus operandi do sistema de governo de coalizão que mina sistematicamente o fôlego do país. Com uma votação confortável, uma aprovação astronômica, Lula não precisava se submeter aos caprichos de muitos partidos brasileiros, que só apoiam um governo em troca de cargos e poder. Poderia ter enfrentado o Congresso sem entrar no jogo já conhecido. Não o fez. E decepcionou quem depositava nele toda a esperança de uma política mais decente.

Agora, dizer que isso ou as denúncias surgidas até agora são motivo para Lula estar preso é uma falácia. Há denúncias muito mais graves e provas contundentes contra inúmeros outros políticos, muito anteriores a Lula, inclusive, ao menos uma delas, nas mãos de Sérgio Moro, que não caminharam.

Prender um ex-presidente porque um executivo o delatou, sem nenhuma prova concreta, deixa claro que, o que há, é uma reação de vários setores da sociedade brasileira, por motivos ideológicos, políticos, partidários e, por que não, subterrâneos, às mudanças em nossa estratificação social. Ninguém, atenção!, ninguém seria preso apenas com os elementos usados para a condenação de Lula. Basta verificar, sem paixões, as análises de juristas das mais variadas extirpes, inclusive e especialmente os internacionais, que conseguem emitir um parecer distante, sem contaminação.


A madame não aceita registrar em carteira sua empregada doméstica. O apresentador de TV não aceita que um pobre compre seu carro - ele tem que continuar de ônibus, ora! O empresário não aceita que o filho do pedreiro esteja na universidade. Parte da elite brasileira - ou que pensa que é elite - quer manter cada um em seu devido lugar. É por isso, e só por isso, que Lula está preso. Lula é um preso político-ideológico.

Isto posto, creio que chegou a hora de o Brasil ter um choque administrativo de direita. Mas não a direita raivosa, preconceituosa, discriminatória, soberba, cruel. E sim uma direita moderna, que reduza a extrema e inacreditável burocracia nacional. Que tire da responsabilidade do Estado setores cujas paquidérmicas estruturas servem apenas como moeda de troca, para a nomeação de apaniguados, para abrigar larápios, para surrupiar ininterruptamente as riquezas do país.

Jamais deixarei de defender um Estado preocupado com o cidadão e responsável por educação e saúde gratuitas, universais e de qualidade. Responsável pela defesa do meio ambiente, pela segurança, pela regulação dos serviços comuns a todos. Mas, do ponto de vista econômico, temos que mudar.

Amoêdo: Estado não deve interferir na vida privada (Reprodução)
Reduzir o Estado é, infelizmente, a única maneira de reduzir a corrupção, os compadrios, as negociatas. Um Estado mais enxuto, mais célere, ágil, pode ser também um Estado mais justo e correto com seus cidadãos.

João Amoêdo (NOVO) me parece reunir todas as condições para seguir nesse sentido. A despeito de caminhar ao lado de parte da escória da direita brasileira - a maior parte, felizmente, está com Bolsonaro, que não tem chance de vencer devido a seus índices de rejeição -, tem as melhores propostas. Uma visão, realmente, totalmente nova de administração pública - profissional, moderna e competente. E, muito mais importante: um Estado que não se intrometa na vida privada do cidadão, como querem alguns. Liberdade religiosa, artística, cultural, política.

São os pais, por exemplo, que devem decidir o que é ou não adequado para seus filhos. Não a igreja. Não os conservadores. Não os intrometidos. E essa liberdade Amoêdo defende e, ao menos para mim, a não interferência nos usos e costumes é tão ou mais importante do que os planos de governo na hora de avaliar um candidato.

Por que um Estado menor não pode ser um Estado Cidadão? Por que um Estado menor não pode ter saúde e educação de qualidade e universais? É preciso acreditar também nas nuances e não ficar preso ao preto ou ao branco.

Após vinte anos de social-democracia (sim, PT e PSDB são da mesma família), hora de virar a página, ao menos como tentativa.

Lula livre. E Amoêdo presidente.

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