quinta-feira, 8 de março de 2007

Chega de provincianismo

Notas, impressões, versões e alguma verdade
Acabo de ouvir na rádio 730, aqui em Goiânia, críticas aos gastos do poder público com os jogos Pan-americamos. "Poderíamos resolver muitos problemas mais urgentes com esse dinheiro", disse a radialista. Bem, eu, quando era criança, portanto um pouquinho menos informado do que hoje, tinha exatamente o mesmo raciocínio. Pensava ser um absurdo o governo gastar dinheiro financiando um filme, por exemplo, enquanto os hospitais estavam superlotados e com péssimo atendimento.
Evidentemente, trata-se de uma visão tacanha. Ou, poderíamos dizer, para que alguns entendam: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mesmo que todo o dinheiro da cultura fosse para a saúde ou os gastos com viagens internacionais do presidente fossem para obras de infra-estrutura os problemas não seriam melhor resolvidos do que hoje. Seria muito simplista pensar assim.
Em tempos de globalização é importante, sim, os países se firmarem internacionalmente. Quanto mais poderosos, menos sujeitos aos interesses das potências internacionais que se dizem xerifes do mundo. Por isso, organizar competições esportivas internacionais não só é justificável como uma necessidade.
O mesmo raciocínio vale na justificativa das viagens internacionais de Lula e nas ajudas financeiras que o Brasil concede a países mais pobres. Dessa forma, aumenta sua área de influência e, consequentemente, seu poderio internacional. Em outras palavras, é importante, no duro jogo do capitalismo, termos uma Bolívia ou uma Angola sentindo-se agradecidas pelos favores concedidos pelo Brasil.
Foi assim que grandes potências conquistaram liderança regional ou mundial. Não se trata de pensar que o Brasil vai desbancar no ranking dos mais poderosos este ou aquele país rico - até porque somos um país pobre. Mas assim que deixarmos de ser provincianos e buscarmos nosso lugar de líder dos pobres - ou emergentes, para utilizar uma terminologia politicamente correta do capitalismo - talvez consigamos ocupar um lugar melhor na história.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que é um dos primeiros textos lúcidos sobre o assunto. Não puxa a sardinha para nenhum dos lados, e explica de maneira bem fácil o que acontece e por que é assim... ufa.