terça-feira, 29 de julho de 2025

Marrom Glacê

Era nome de novela, não era? Nome de sorveteria também. A Birigui dos anos 1980. Há outra sorveteria no lugar, franquia, coisa chique. 

Diferente do Bar do Décio. Retrô, os entusiastas das ruínas diriam. Decadente mesmo. E cheio de mosquito. Décio - não esse, outro, dono de outro bar - matou uma pessoa a navalhada, uma briga, diziam, na casa do vô Mané e da vó Tonica, a poucos metros. A casa da vó e o prédio do bar ainda estão lá, decadentes, puídos, ruínas de vidas atrás.

Não é a primeira rememoração pseudofilosófica nessas vindas à cidade. Nessas mais de três décadas de exílio. Nem a mais doída, nem a mais simbólica, nem a mais importante. É só mais uma. Novos contornos apenas. 

Nada diferente do ano passado, quase nada. Mais um périplo de visitas a lugares de antes, de tentar fazer seu filho se interessar por um lugar, uma rua, uma cidade que não sobreviverão a você. 

Um dia, ele nem se lembrará mais da cidade em que o pai nasceu. Essa cidade morta e vazia, antes, tão cheia de vida. 

Cadê o trottoir da praça da prefeitura, em que, galantemente parados, aguardávamos as moças passarem e, às vezes, tocávamos levemente seus cabelos demonstrando sinal de interesse? E aquele povo todo da praça antiga da estação, aquela vida toda? Por que a cidade morre assim?

Muitos saímos daqui, muitos ficaram. Dentistas, advogados, servidores públicos, até um prefeito temos na turma...

Será que é a cidade mesmo que morre?

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