sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Reflexões em um país destruído

A mãe é sorridente, alegre e simpática. Tenta vender, no sinal, paçoquinhas ou coisa assim. O dia todo, todos os dias. Os filhos, duas crianças, nesse frio incomum de Goiânia, abrigados em barraca armada na ilha da esquina providencialmente. Proteção que o Estado não dá. Que a sociedade não se importa. Que os motoristas passam indiferentes. Uma situação que muitos amigos, conhecidos e parentes aprovam, ao apoiar o governo que destruiu o País e despreza os não-self-made-men. Aqueles que, ora, não ficaram ricos simplesmente porque não quiseram.

Eu não vivo na mesma frequência do Mundo. Na verdade, não vivo na mesma frequência do lugar-comum, dos comunzinhos, porque o mundo é de todas as frequências. Eu não vivo na frequência da tradicional família brasileira da mulher, marido e amante – hipocrisia, aqui, passou longe. E, como diria Sidónio Muralha, “pago o preço”. Eu não vivo na frequência da igreja que prega o uso de armas pra resolver divergências. Que prega a agressão – deem um Google – a adversários. Não vivo na frequência de quem acha comum furar o sinal, estacionar na vaga do idoso ou do deficiente como se fosse a coisa mais natural… do Mundo. Eu não me importo de ser deslocado da realidade quando a realidade é essa daí. Me cobrem coerência. Mas não me peçam falsidade.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Colégio Visão demite professor após chilique de candidato a deputado bolsonarista que agrediu enfermeiras

O Colégio Visão, de Goiânia, demitiu o professor de sociologia Osvaldo Machado em um episódio grotesco de censura após a aplicação de uma prova. O motivo, uma tirinha que abordava a atuação policial para que os alunos discorressem criticamente sobre o tema.

Pois bem, em uma interpretação exatamente oposta do conteúdo, o candidato a deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer, conhecido por agredir enfermeiras durante uma manifestação em Brasília, taxou a obra de doutrinária. Foi o que bastou para que o colégio, vejam só, contrariando os pais que pagam as mensalidades e os próprios alunos, demitisse o professor. 

Isso mesmo, o Colégio Visão demitiu um professor por ensinar o que ele é pago para assinar depois de uma alucinação de um político bolsonarista. A falta de liberdade nesses tempos sombrios que estamos vivendo é estarrecedora. Ah, outra pérola do currículo de Gayer foi a participação dele, há apenas cinco dias, em um evento com um foragido da justiça.

A tirinha "doutrinária"

Bem,  no perfil do Instagram do colégio, alunos e ex-alunos estão criticando duramente a decisão da escola. No próprio colégio também há manifestações contra a censura.

O lema do colégio? "Quem tem visão vai longe".

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Procuradora da República e ex-candidato a prefeito de Goiânia participam de evento com foragido da Justiça nos Estados Unidos

 

Flyer divulgado em grupos bolsonaristas
A que ponto chegamos nesse país dominado por milicianos. A procuradora da República Thaméa Danelon vai participar, no próximo dia 25, da edição norte-americana do Congresso Conservador Brasileiro (CCB-USA). Até aí, nada anormal. Mas o fato é que um dos participantes, inclusive em destaque no flyer de divulgação do evento compartilhado em grupos de WhatsApp bolsonaristas é o foragido da Justiça Brasileira e procurado - não muito, é verdade - pela Interpol Allan dos Santos.

Em seu site, a  integrante do Ministério Público Federal se identifica assim:

"Olá! Sou Procuradora da República há 22 anos e Professora de Processo Penal. Fui coordenadora do Núcleo de Combate à Corrupção em São Paulo/SP e integrante da Força Tarefa da Operação Lava Jato/SP por 2 anos. Sou mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal pela Escola Superior do Ministério Público de São Paulo (ESMPSP). Fui professora universitária e sou palestrante."

Lá, ela vende cursos para exame da OAB, provas de concursos entre outros. Além de Thaméa, outros ilustres brasileiros se uniram no escárnio à Justiça e no apoio ao foragido Allan: o ex-candidato a prefeito de Goiânia Gustavo Gayer (Democracia Cristã), conhecido por agredir enfermeiras em Brasília; a jornalista curitibana Cristina Graeml, colunista da Gazeta do Povo, entre outros brasileiros de bem, defensores da ordem e da lei.

O flyer foi denunciado primeiramente pelo jornalista Eduardo Matysiak em seu perfil no Twitter.

Ah, sim: eles também pedem seu apoio, por meio de pix, para custear as férias Massachusetts.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

Internautas resgatam fotos de um dos Bolsonaro ao lado de coronel preso por estuprar criança de 2 anos

Flávio Bolsonaro em duas oportunidades com o estuprador de bebês
Se a internet é território livre para a propagação de ódio e fake news - o novo nome da pós-verdade -, bem ao gosto dos bolsonaristas, também é um excelente espaço para recordar as peripécias de cada um. Bastou a notícia da prisão, ontem (09) de Thuanne Pimenta dos Santos, a mulher condenada por estupro de vulnerável que ajudava o coronel da PM Pedro Chavarry a abusar de crianças da primeira infância, de 1, 2, 3 anos de idade, para que internautas resgatassem fotos do criminoso com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Chavarry foi preso em 2016 com uma menina de dois anos de idade, aos prantos, nua, dentro de seu carro. Condenado a 11 anos de prisão, foi absolvido em segunda instância - ora, qual a surpresa? Ele, com ajuda de Thuanne, enganava os pais dos bebês, inclusive com promessas de benefícios financeiros, para que as vítimas pudessem "passear de carro", com o policial. Quem duvidaria da idoneidade do homem branco, rico e influente? 

Chavarry não é o único criminoso a aparecer ao lado e receber homenagens do clã bolsonarista. Milicianos estão entre seus principais aliados. Os Bolsonaro podem até dizer que não sabiam da mente doentia e cruel do amigo. Não é possível saber a data em que as fotos foram tiradas. Mas o primeiro flagra de Chavarry com uma criança é de 1983. Faz tempo, muito tempo.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Após ser adiado três vezes, júri popular de responsáveis pelo assassinato do jornalista Valério Luiz está marcado para 13 de junho

O ex-cartorário Maurício Borges Sampaio, suposto mandante do assassinato do radialista Valério Luiz, e outros quatro suspeitos devem ir a julgamento pelo crime no próximo dia 13. São eles o açougueiro Marcos Vinícius Pereira Xavier, o cabo Ademar Figueiredo Aguiar Filho e o sargento reformado Djalma Gomes da Silva, ambos da Polícia Militar; além e Urbano de Carvalho Malta, que era funcionário de Sampaio, também ex-presidente do Atlético Goianiense.

Valério foi morto covardemente com cinco tiros, em 5 de julho de 2012, ao sair da rádio em que trabalhava. Ele era conhecido por seus comentários críticos sobre esportes, especialmente sobre a gestão de Sampaio frente ao clube.

Conforme aponta o filho do jornalista e assistente da acusação Valério Luiz Filho, o atrito entre o comunicador e o ex-presidente do time vinha de longa data. A relação entre a cobertura jornalística esportiva e a atuação do suposto mandante não é ocasional, e explicita a conexão entre o assassinato e o exercício da liberdade de expressão – onde o primeiro opera como meio de inviabilizar o segundo.

Durante estes quase dez anos em que o crime restou sem resolução, Maurício Sampaio buscou meios de atrasar o julgamento e de impedir que o caso de homicídio fosse levado a júri popular – tentativa que não prosperou. Ainda assim, o júri foi adiado por diversas vezes sob diferentes justificativas, a exemplo do adiamento, em 2019, a partir da alegação do juiz responsável de que não haveria estrutura para comportar julgamento de tamanha repercussão no Foro correspondente. Desde 2020, a pandemia de covid-19 prejudicou ainda mais a realização do julgamento, uma vez tendo sido determinado o adiamento de júris pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Nós, colegas de Valério, aguardamos ansiosamente o resultado do Júri.