Bilhões
de reais oriundos de processos de licenciamento de empreendimentos
com significativo impacto ao meio ambiente aguardam para serem
aplicados com maior celeridade e efetividade a favor da natureza no
Brasil. São recursos que legalmente devem ser destinados à
consolidação e manutenção de unidades de conservação (UCs) em
todo o país.
Em
Goiás, são 34 UCs, segundo levantamento do Instituto Socioambiental
(ISA).
Em quase 20 anos, desde que o
mecanismo da compensação ambiental foi instituído pela Justiça,
cerca de R$ 1,74 bilhão foi destinado à criação e manutenção de
áreas protegidas federais. Entretanto, o montante é muito maior –
difícil de ser somado e mesmo aplicado por esbarrar em entendimentos
jurídicos distintos em municípios, estados e União.
Para fortalecer a atuação do
Ministério Público brasileiro para destravar o dinheiro de
compensações ambientais relacionadas ao Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC), a Associação Brasileira dos
Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa) e a
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza lançaram o
livro eletrônico “A compensação ambiental do SNUC: manual de
atuação do Ministério Público”.
“Num momento em que as políticas
ambientais vêm sendo cada vez mais enfraquecidas e nossos
patrimônios naturais colocados em situação de precariedade, é
preciso fortalecer as frentes de proteção do nosso meio ambiente. É
justamente esse o objetivo do manual, fortalecer a atuação do
Ministério Público que para se possa implementar, cada vez mais, o
dever constitucional de proteção às áreas naturais no país”,
explica a presidente da Abrampa, Cristina Seixas Graça.
Construção em etapas
Prática recorrente de empreendedores
para driblar a lei é o desmembramento de grandes construções em
fases ou unidades menores, de maneira que nenhuma delas atinja o
patamar que as obrigue a elaborar o Estudo de Impacto Ambiental e seu
respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). O EIA/RIMA é
o documento que avalia o Grau de Impacto (GI) do projeto, valor de
referência usado para calcular o montante compensatório. Com tal
manobra, os empreendimentos fogem das regras do licenciamento
ambiental e, consequentemente, ficam isentos do pagamento da
compensação. Uma prática que merece atenção e fiscalização
para que o real dano ambiental seja reparado.
A diretora executiva da Fundação
Grupo Boticário, Malu Nunes, aponta que os Ministérios Públicos,
federal e estaduais, têm sido, historicamente, defensores da
garantia dos direitos ambientais. “Este estudo facilita a atuação
do MP, na medida em que organiza e apresenta informações
qualificadas sobre um tema específico e complexo. O fortalecimento
das UCs é essencial para que seu uso público seja ampliado,
atraindo as pessoas para conhecer as áreas protegidas, entendendo o
valor da natureza e proporcionando o desenvolvimento socioeconômico
das comunidades do entorno a partir da atividade turística.”
A publicação
Dividido em oito capítulos, “A
compensação ambiental do SNUC: manual de atuação do Ministério
Público” traz
tabelas e gráficos didáticos que auxiliam procuradores e promotores
a buscarem mais celeridade nos processos de licenciamento, incluindo
a execução da compensação ambiental e o apoio à implantação e
gestão das UCs.
Ao final, a publicação oferece uma
série de check lists referentes a diversas etapas da compensação
ambiental, um guia rápido e prático que auxilia os membros do MP em
questões como a formação de diagnóstico das UCs existentes, a
coleta de dados sobre os processos de licenciamento, o levantamento
do passivo de licenciamentos devedores de compensação ambiental e o
inadimplemento de Termo de Compromisso de Compensação Ambiental
(TCCA).
“A compensação ambiental do
SNUC: manual de atuação do Ministério Público” é uma
publicação eletrônica produzida pela Abrampa, com apoio da
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O manual pode
ser acessado gratuitamente no site
da Abrampa.