Em
abril, o estado de São Paulo chegou a ter uma fila de mais de 30 mil
testes para Covid-19. Essa situação expõe a vulnerabilidade de um
país que escolheu nos últimos anos reduzir investimentos em
Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). O Brasil encara a
pandemia do novo coronavírus em meio a um cenário de cortes de
bolsas de pesquisa, desmoralização das universidades e defasagem
tecnológica dos laboratórios.
O Brasil é dependente de outros países para obtenção de
equipamentos e reagentes laboratoriais utilizados tanto na pesquisa
quanto na rotina clínica. Em março, por exemplo, o Governo Federal
encomendou de uma empresa da China 10 mil testes.
A pandemia causou uma corrida internacional por insumos e
equipamentos médicos e países mais ricos têm vantagem competitiva.
Benisio Ferreira da Silva Filho, coordenador do Curso de Biomedicina
do Centro Universitário Internacional Uninter, explica que devido a
essa dependência “nós sofremos com os custos e, em caso de
emergência como essa que vivemos, precisamos entrar na fila para
concorrer com outros países. O fato de o Brasil ser muito grande
ajuda a piorar a situação, pois o volume de equipamentos e
reagentes é proporcional, ou seja, precisamos de muito”.
Para Filho, o Brasil tem conhecimento e mão de obra qualificada,
mas não tem investimento e incentivo, isso faz com que muitos
cientistas deixem o país. “Nós somos reconhecidos por nossa
excelência científica, tanto é que muitos dos nosso mestres e
doutores saem do país e não voltam. Se soubéssemos aproveitar
nosso conhecimento e mão de obra, seríamos sim independentes em boa
parte da área da saúde, tanto em produção de equipamentos e
reagentes, quanto na área de negócios. Poderíamos produzir e
vender. Atualmente não produzimos, não vendemos, perdemos
pesquisadores e pagamos muito caro por isso”, afirma.
Investimento em pesquisa
Segundo dados da última pesquisa de Indicadores Nacionais de
Ciência, Tecnologia e Inovação, de 2018, o Brasil investiu 1,26%
do PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em 2017. O valor fica
bem abaixo de países que lideram a corrida tecnológica – como
Coreia do Sul (4,55%), Japão (3,21%), Alemanha (3%), Estados Unidos
(2,79%) e China (2,15%).
O biomédico acredita que incentivos como isenção fiscal para
empresas seria uma alternativa. “Nosso parque tecnológico poderia
dobrar ou triplicar permitindo então crescimento na nossa proteção.
Sem investimento em ciência, sempre seremos dependentes”, comenta.
O coordenador destaca que investir em ciência é também investir
para que profissionais se dediquem a esse trabalho sem ter que
dividir sua vida entre a atividade de pesquisador e outra atividade
para complementar sua renda. “A grande maioria dos pesquisadores no
Brasil vivem ‘no limite’ da dignidade e esse é um ponto
importante para decidir ficar aqui ou ir para fora do país. O Brasil
não investe de forma correta na formação do pesquisador, não
investe em pesquisa e agora sabe que não tem o que colher, afinal
ele não plantou nada. Se continuarmos assim, não sei o que será no
futuro”, completa.