Por Rodrigo Augusto Prando
Ao fim e ao cabo das eleições americanas, com a vitória de Joe
Biden, um sentimento tomou conta do Presidente Bolsonaro e dos
bolsonaristas: medo. Apostaram, indevidamente, todas suas fichas em
Trump. Deveriam - o presidente, seus filhos e ministros - manter a
salutar distância diplomática e protocolar em relação às
eleições de outra nação.
Trump foi, para a democracia norte-americana, um elemento nocivo.
Assentou sua conduta, como candidato e como presidente, numa santa
trindade das redes sociais: fake news - teorias da
conspiração - pós-verdades. Pesquisadores apontaram que a
comunicação de Trump, pelas redes sociais, era, preponderantemente,
de mentiras e distorções. Soma-se a isso posturas anticientíficas
e negacionistas. Democratas - os que valorizam e defendem a
democracia como valor inegociável - do mundo todo, comemoraram a
vitória de Biden e, agora, fazem chiste com a postura de Trump em
não reconhecer a derrota e, ainda, de continuar com fake news,
colocando em dúvida a legitimidade eleitoral e da própria
democracia estadunidense. Ademais, sua postura de tratar a pandemia
com menoscabo também pesou na avaliação dos americanos em relação
à Gestão Trump, dado o enorme número de contaminados e mortos.
Bolsonaro e os bolsonaristas tornaram Trump seu totem, objeto
sagrado, de culto e adoração. Eduardo Bolsonaro, deputado federal e
filho do presidente, usou boné da campanha de Trump. Ernesto Araújo,
Chanceler, publicou artigo - antes de se tornar ministro - afirmando
que Trump seria capaz de salvar a civilização ocidental.
Bolsonaristas, famosos e anônimos, fazem ecoar nas redes a teoria da
conspiração de que Trump foi vitorioso e as eleições fraudadas.
Aliás, Bolsonaro afirmou ter provas de que a eleição de 2018 foi
fraudada, mas nunca as apresentou.
A situação das relações econômicas e diplomáticas, com Biden
na Casa Branca, devem, ao menos na questão ambiental, mudar de
direção. Diferente de Trump, negacionista climático, Biden trará
à tona uma agenda ambiental e já deixou claro, em pronunciamento,
estar atento à situação da Amazônia. Certamente, estarão na
berlinda Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente, e Ernesto Araújo,
ambos fortes membros da ala ideológica do governo. Haverá, por
parte do governo brasileiro, uma ação mais proativa e pragmática
na diplomacia e relações comerciais ou a cartilha do olavismo
continuará na cabeceira dos ministros? Até o final de domingo, não
haviam cumprimentado Biden pela vitória Kim Jong-Um (Coreia do
Norte), Mohammad bin Salman (Arábia Saudita) e Bolsonaro - não
parece ser boa companhia para a diplomacia nacional.
Pairou no ar, aqui, no Brasil, a pergunta: teremos um Biden para
disputar com Bolsonaro em 2022? Não é tão simples, pois não
temos, apenas, Democratas e Republicanos como lá. Os partidos
políticos, seus líderes e atores até o momento não encontraram em
nosso país um denominador comum capaz de superar as divergências
que os separam em prol de uma visão conjunta que os una. O
bolsonarismo sentiu o golpe. Está com medo. Bolsonaro medrou.
Começou a ponderar que, em 2022, o desfecho não seja a reeleição
e sim uma derrota. A política está aberta. Candidatos à reeleição
são, sempre, favoritos, no Brasil e nos EUA. Se o poderoso Trump,
com seus milhões de seguidores nas redes sociais e seus milhares de
dólares na conta bancária perdeu a eleição, no voto popular e no
colégio eleitoral, tudo é possível.
Rodrigo Augusto Prando é Professor e Pesquisador da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais,
Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.